quarta-feira, 17 de outubro de 2018

O final e inícios recorrentes.

Houve um tempo em que eu desejava algum tipo de poder sobrenatural sem me preocupar com a raiz desse poder e houve um tempo em que eu nada cria e era indiferente. Ambas as situações vivi minha vida da maneira que achava melhor, eu não me importava com as consequências de nada que fazia. 
Após anos vivendo dessa maneira, sem direção e desejando muitas vezes o mal, comecei a notar minha vida e como ela havia se tornado uma grande mentira.
Há certa altura passei a perceber contemplativa o universo ao meu redor. Olhava e pensava a respeito de como cada pessoa era única e tentava imaginar quantas histórias poderiam estar acontecendo ao mesmo tempo. Era impossível imaginar. 
Apesar dos sorrisos e das muitas piadas, sentia-me em um constante estado de sofrimento vivendo um peso estranho de alguém que sabia que não era real. 
Era fácil ignorar tudo isso se envolvendo em conversas e coisas que não levavam a nada se não a mais mentiras. Ás vezes uma mentira não aparece tão intencionalmente, ás vezes ela só se manifesta quando você ignora a verdade.
A noite se aproveitava esvaziando meus olhos; me tornei uma expectadora de minha percepção, apegando-se profundamente às minhas narrativas mentais, e cenas imaginadas. Um dia após outro vivia distorção. 
Passou algum tempo e eu ignorei esses pensamentos, mas então, tudo pareceu falso outra vez. Novamente minha percepção mudou, mas dessa vez, pensava na quantidade de movimentos simultâneos que aconteciam por segundo, sempre olhava para as pessoas sabendo que eu nunca entenderia toda essa complexidade no esplendor de sua beleza; me diverti durante algum tempo com isso, mas minha mente já havia sido esvaziada em muitos aspectos e meu pensamento estava comprometido, triste, sem rumo, um grande vazio. 
Já não sabia o que era o tempo e comecei a me perder em tempos musicais, quando ouvia o ressoar barulhento da cidade ou quando ouvia alguma música que lhe agradava. Sentindo-me só e sem conseguir acompanhar nada além da minha mente volátil, a opressão tornou a pesar e eu tornei a buscar válvulas de escape. 
Foram alguns relacionamentos, brigas, noites mal dormidas, cigarros, álcool, maconha.
Há certa altura nada mais fazia sentido, mas continuei porque ainda que por pouco tempo, aquilo lhe dava felicidade. 
Porém, o peso aumentava e quase no fim, voltei a pensar... Dessa vez, vi que a maioria das pessoas só se importava com seu próprio ego, o seu eu. 
Analisando, ainda que com minha visão turva e deturpada, percebi tantas situações deploráveis, sujas, corruptas em minha vida e ao meu redor que decidi deixar tudo que havia feito até ali e seguir um novo caminho. Precisava ser a diferença, me libertar, ser real. 
Nessa época busquei evoluir espiritualmente, queria ser feliz, ajudar o próximo. Eu que fui criada por missionários evangélicos recebi na infância o ensino cristão protestante, porém ao longo da minha vida e na profundidade da rasura do meu pensamento eu preferia crer em tudo. Adotei para mim um grandioso sincretismo religioso sem me importar muito com nada me vi imersa em diferentes religiões, eu estava crendo em tudo, com o pensamento de que haveria uma religião universal, que a verdade havia sido espalhada entre todas as culturas e estava fragmentada. Eu pensava que haviam fundamentos verdadeiros em todas as religiões, embora tivessem mentiras na construção das mesmas. Cria numa união de tudo separando a verdade da mentira e seguindo o certo. 
Porém, sem um caminho certo para seguir, precisava de orientação. 
Foi quando, em um de meus empregos, conheci um jovem espírita com quem conversava frequentemente, os assuntos eram diversos... experiências estranhas, mitologia yorubá, umbanda, espiritismo, incorporação, etc.
Era meu dia de folga quando aconteceu algo muito estranho, eu estava na sala jogando video game, então um clarão começou a piscar eventualmente no corredor e era muito forte. 
Ignorei o fato até tomar coragem, me levantar e ir à cozinha. Quando voltei, vi um ser sem sexo todo branco sentado no meu sofá. Pra ser sincera, me assustei bastante, porém, na falta de reação melhor, eu voltei a jogar Metal Slug, fingi ignorar o que tinha acontecido e as coisas se acalmaram. 
No dia seguinte, no trabalho, eu comecei a conversar e contar para o Lucas o que havia ocorrido. Ele se concentrou e recebeu uma orientação espiritual que disse a ele que aquela situação se tratava de uma projeção da minha consciência. Algo como se minha própria consciência tivesse saído de mim e lutasse pela minha vida. Eu não entendia e chorava bastante, perguntando o que eu deveria fazer. Então ele disse: "Você precisa orar a Deus, precisa pedir".
Não pensei direito e nada mais importava. Naquele mesmo dia eu fui pra casa, me ajoelhei e comecei a conversar com Deus, orei sobre várias coisas, pedi perdão para Deus por minhas ações, pelo que eu tinha me tornado, eu busquei de todo coração ser mudada; nesse momento um choro instantâneo e muito sincero tomou conta de mim, percebi que precisava consertar minhas atitudes e adotar uma vida em que eu andasse na verdade, chorei por coisas que eu nem sabia o motivo. Naquele dia, declarei aceitar Jesus Cristo de Nazaré(mesmo crendo em várias coisas, algo me dava a certeza de que Ele era o caminho). 
Não sei ao certo quanto tempo eu permaneci ali, de joelhos, mas eu não havia me esquecido de fazer alguns pedidos.
Sabedoria, Empatia, Compaixão, Honestidade e outros dois itens dos quais não me lembro. Quando acabei, me levantei totalmente feliz e me sentia abençoada por Deus. 
Pronta para seguir qualquer missão que Ele ordenasse. 
Meu pensamento ainda era uma grande miscigenação religiosa, mas eu estava disposta a seguir a Verdade, não importando qual fosse. 
Mais tarde, ainda no mesmo dia, eu voltei ao trabalho. Seguindo pelo mesmo caminho que eu sempre tomava, na metade da caminhada, senti um peso muito grande sair das minhas costas - algo que nunca havia acontecido! Imediatamente me senti mais leve e ainda mais radiante, eu sorria com uma alegria profunda, crendo ainda mais que havia um Deus poderoso cuidando de mim. Quando cheguei ao trabalho, percebi no expediente que eu havia crescido! 
Eu trabalhava em um bar de restaurante e não alcançava as taças que estavam no suporte sem fazer muito esforço ficando na ponta dos pés, naquele dia, com o pé totalmente firmado no chão eu alcancei todas as taças sem problema algum.
Aquele peso que saiu das minhas costas era tão opressor que de alguma forma estava me diminuindo. Naquela hora tive muita certeza de que havia um mal e que esse mal desejava a minha morte. 
Ninguém entendeu nada, ficaram espantados, mas pela minha naturalidade, pensaram ser impressão deles ou uma questão de postura. 
Mal sabia eu que aquelas seriam as primeiras de muitas experiências inexplicáveis e os últimos dias naquele emprego.
Aproximadamente uma semana se passou e os eventos estranhos em minha casa se tornaram impossíveis de ignorar. 
Foram vultos, presenças estranhas, reflexos no espelho sem explicação aparente(um desses reflexos era uma mão me sufocando), etc. Na época eu atribuí essas coisas com o fato da minha casa estar muito suja, como eu acreditava em tudo, pensava que sujeira atraía espíritos malignos. 
Diante disso, novamente eu orei a Deus e dessa vez eu pedi que seus anjos me protegessem do mal que havia em minha casa apenas naquela noite, pois no dia seguinte eu iria aproveitar a minha folga e limpar a casa, e então permanecer lá seria suportável. 
O dia amanheceu belo, mas só acordei de tarde, ao invés de fazer como o prometido, perdi meu tempo assistindo televisão. Embora eu desejasse abandonar a mentira e viver a verdade, eu não consegui fazer isso por muito tempo.
A noite chegou e estava vendo tv quando passou um comercial do governo, eu enxerguei a imagem de uma criança projetar sua face para fora do aparelho, uma face maligna e quase distorcida- vi isso nitidamente - o terror tomou conta de mim. 
Mesmo depois da minha experiência com Deus, eu não o conhecia na pessoa de Jesus, a minha noção sobre Ele era completamente distante de quem Ele é. 
Devido a minha falta de palavra, tive vergonha de orar pedindo proteção a Deus novamente e resolvi buscar ajuda na casa de, até então, uma amiga minha, a Juliana. 
Rapidamente eu guardei algumas roupas em minha mochila, cigarros (estava parando de fumar) e uma bíblia. 
Com muitas ideias confusas pairando sobre a minha mente, eu não a avisei que estava indo, nem o motivo da minha ida, na verdade, eu nem falei com ela, aliás nós nem estávamos nos falando mas como não tinha pra onde ir, não sabia onde poderia dormir, o único lugar "acessível" era a casa dela. Era uma época em que ela estava se afastando de mim e chegando lá, ela não quis falar comigo.
Talvez por orgulho, talvez por medo e sem fazer ideia do que estava acontecendo não me atendeu, não conversou comigo e eu passei aquela noite na rua. Na rua da casa dela. 
A princípio eu resolvi esperar pra falar com ela, mas à medida que o tempo passava e ela não aparecia, eu imaginava pra onde deveria ir, voltar para casa não era uma opção. Aquela rua era deserta e aparentemente segura, por isso, resolvi passar a noite ali.
No período que estive ali, algumas coisas aconteceram e eu as relato aqui. 
Logo de início na mesma calçada em que eu estava, vi uma barata, nada demais - logo a matei. 
Passado algum tempo, peguei a bíblia e comecei a lê-la em trechos aleatórios e estranhamente tudo que eu lia parecia conversar comigo, como se quisesse me avisar de algo. A atmosfera daquele lugar estava diferente, dava pra sentir muitas coisas acontecendo.
Do outro lado da rua começaram a aparecer bichos, alguns que eu nunca tinha visto. Eles vinham em minha direção um por um num certo intervalo de tempo. Primeiro uma aranha grande e vermelha, depois um besouro, outra barata, um grilo, algo semelhante a um gafanhoto, e mais 2 ou 3 insetos que eu desconheço. Depois de matá-los um a um, cessaram suas aparições por hora e eu voltei a me sentar na calçada. Quando olhei para o chão, vi uma lacraia, a qual eu também matei. Tornei a abrir a bíblia e dessa vez não estava lendo, mas já estava orando. 
Fazia versos de uma oração corajosa, na qual eu seria capaz de lidar com qualquer coisa que aparecesse. 
Fui tomada por um estado de espírito bizarro, e tudo que eu falava, a maneira como raciocinava, tudo era loucura. Dizia qualquer coisa sobre justiça e quem eu era. Já não era mais por não ter aonde ir, eu via e percebia uma espécie de batalha naquele lugar, luz e trevas, e embora eu estivesse extremamente desorientada, não iria desistir e nem mesmo dormir naquela noite, aquela luta era minha!
Durante esse tempo a Juliana chamou o André que além de ser namorado dela, também era meu chefe até a casa dela. 
Ele permaneceu lá durante algumas horas e quando foi embora, eu vi o seu semblante muito irritado e com ira em sua voz ele perguntou "você não desiste não?", respondi que não. E ele foi embora.
Passados esses acontecimentos, eu me levantei e voltei a orar, pedi que se manifestasse tudo que estava em oculto naquele lugar... 
Foi quando ouvi um barulho de cascos no chão, me virei e lá estava um porco enorme e rosa. Ele mantinha um olhar desafiador em minha direção e eu, ao perceber isso, me inflei de coragem e comecei a expulsá-lo falando palavras de autoridade e correndo atrás dele. Sim, eu corri atrás de um porco. 
Você parar tudo agora e dizer pra si mesmo que eu estava louca, o que não deixa de ser verdade. 
Mas eu sei o que vi e como vi. Entendi que aqueles animais representavam muitos males.
Mesmo sem entender nada usei o meu entendimento como base, é claro que isso gerou fantasias e eu acabei por delirar sobre o que eu estava vivendo. 
Depois da adrenalina, me acalmei, precisava urinar e como eu não obtive nem sinal da minha "amiga", urinei num canto da rua, que estava em construção, também aproveitei e troquei de blusa. 
Nesse momento várias vozes intracranianas começaram a ecoar em minha mente me deixando confusa e perturbada ao ponto de me fazer rasgar a blusa que eu estava usando antes, enquanto a rasgava com muita dificuldade, vi no lugar da minha sombra um ser alado, de asas pequenas, pisando na cabeça de uma cobra. Essa visão durou alguns segundos, e depois disso com um isqueiro, queimei as partes da blusa e pasmei ao ver que queimaram instantaneamente por completo deixando apenas a silhueta da letra "B".
Outras coisas aconteceram, porém não me lembro delas, lembro-me de ter queimado alguma outra coisa e ter visto a letra "M", lembro-me de um gato preto que sempre corria em uma só direção e vi também um morcego. Essas foram as coisas que aconteceram antes do nascer do sol. 
Após o sol raiar eu percebi que não estavam ali os cadáveres de nenhum dos bichos que eu matei, porém tinha lixo em algumas partes da rua, lixo que eu não tinha percebido lá durante a noite. 
Ainda perturbada e sem saber como agir, limpei boa parte da rua. 
A quantidade de pássaros naquela manhã era descomunal e muito incômoda... todos piavam ao mesmo tempo numa sinfonia de doer os ouvidos, até que eu olhei para cima e bem alto vi uma águia cortando o céu. Olhei para o outro lado da rua, o lado de onde haviam surgido os bichos, e o que parecia mato alto, não espesso e meio morto agora eu via ali diferentes espécies de flores, revelando um campo grande parcialmente descampado e muito florido. 
Deixei aquele local depois de ver Juliana saindo de casa e passando direto sem falar comigo ou ao menos olhar para mim. 
A minha saída foi procurar meus pais, faziam anos que nós não nos víamos. 
Eles me ajudaram muito na medida daquilo que foi possível, aquela situação era extremamente delicada e de tudo que aconteceu eu sei que poderia ser pior, por isso não reclamo. 
Foi assim, com este estopim, que a minha loucura começou.
Depois desse “dia de folga”, sem saber fui para o meu último dia de trabalho no restaurante. Estava contente - apesar de tudo - e com muita energia. Foi quando meu chefe, o André, me chamou para conversar.
De todas as conversas que eu tive durante aqueles dias, aquela foi uma das mais confusas.
Era estranho porque na minha percepção nós parecíamos conversar sobre dois assuntos ao mesmo tempo, era como se quando ele respondesse a mim, tratava-se de outro assunto. Na minha loucura, pedi que ele me ajudasse com o suposto problema da minha casa. Ele, com razão, ficou confuso e finalmente tocou no assunto da noite anterior. 
O André afirmou que havia me oferecido ajuda – por alguns instantes fiquei atônita – foi quando pensei que realmente algo poderia ter distorcido a situação, gerando medo e confusão. 
Nada muito confiável, mas eu estava olhando para ele quando o ouvi dizer: "você não desiste não?" enquanto eu respondi "não" - sendo que segundo ele, ele perguntou: "você quer ajuda?".
Mas o que estava acontecendo? Eu sabia que havia distorção ao tentarmos compreender os outros, que a comunicação entre indivíduos era falha, mas dessa forma?! 
Seria possível mesmo, fez parte da minha loucura ou ele estava mentindo para mim? 
Sinceramente eu não me lembro do que falei pra ele, mas pelo nível das maluquices que eu andava dizendo não duvido que tenha sido um monte de bobagens. Depois dessa conversa eu voltei ao trabalho e não demorou muito para que eu fosse despedida pelo meu outro chefe, a razão que ele me deu foi a falta de movimento do restaurante, coincidência ou não, foi o que aconteceu. A partir daí eu estava livre para viver os meus delírios. 
E mais coisas estranhas aconteceram.
Naquela noite, sem emprego, com medo de voltar pra casa, liguei para os meus pais e eles foram me buscar. 
Quando contei a notícia, eles ficaram tristes, preocupados e ali se ofereceram para ajudar na limpeza da minha casa, fazer algumas orações e ungi-la.
O trabalho foi penoso, longo, cansativo; nós chegamos lá e limpamos a casa até a madrugada. 
No momento em que eu iria iniciar a limpeza do meu quarto, encontrei uma barata, mas quando fui matá-la ela fugiu até um lugar onde havia aranhas e outros insetos menores. Por mais que minha casa estivesse suja, aquilo não era normal!
Aqueles insetos tomaram grande velocidade e desapareceram entrando no meu colchão, o qual não tinha nenhum furo ou lugar para que aquela colônia estranha se escondesse, eles simplesmente não estavam mais visíveis. 
Ainda naquela noite limpando aquela casa nós sentimos alguns arrepios quando estávamos perto de certos itens, como meu sofá e meu colchão. 
No fim da arrumação eu e meus pais fechamos todas as janelas e portas e oramos pedindo que Deus enviasse seus anjos para proteger a casa e manter presos os seres que "estavam" nos móveis, não me recordo com exatidão, mas era algo do tipo. A minha intenção estava entre queimar ou doar 90% das minhas coisas. 
Depois disso, eu fui pra casa dos meus pais e repousei lá. 
É importante dizer que minha saúde física já estava debilitada. 
Naquela época eu deixei de me alimentar normalmente, perdi muitos quilos e estava ficando irreconhecível. Obviamente, essa situação espiritual e psicológica estava afetando meu corpo e consequentemente a minha sanidade. 
Isso se tornou ainda mais evidente quando saí da casa dos meus pais e voltei a ficar sozinha na minha residência.
No dia seguinte eu pedi pra ir embora, meus pais, Giovanna e Manoel me deram uma carona e ao entrarmos na casa, tudo estava normal exceto pelo cheiro floral totalmente distinto de tudo que eu já senti. 
Minha mãe Giovanna e eu sabíamos que aquilo não era de nenhum produto de limpeza, era o cheiro dos anjos que Deus enviara naquele lugar e que ficaram ali durante a noite. 
Depois de abrirmos a casa em alguns instantes o cheiro se dispersou. 
Meus pais foram embora e eu fiquei lá. 
Peguei meus livros, um pouco de papel e comecei a tentar entender, não só o que estava acontecendo, mas também tudo que já havia se passado, eu me lembro do sentimento que tive nesse momento a imagem na minha memória tem suas cores bem nítidas. 
A semana que se "iniciava" naquela casa seria intensa, conturbada e completamente desconexa de tudo que já vivi. 
Estava em casa sozinha quando comecei a receber uma enxurrada de informações estranhas diretamente no meu cérebro. No início elas realmente faziam sentido, eram como epifanias geniais, depois eu apenas achava que faziam sentido. 
Com uma visão espiritualista, logo no começo da semana eu resolvi escrever uma lista a respeito dos 7 pecados capitais, nela eu pedia perdão, dizia onde eu errei e no que deveria mudar. Apresentei a lista a Deus através de uma oração. E foi depois de conversar com Ele que comecei a ouvir diversos nomes de orixás em minha mente. Eles estavam sendo relacionados a mim e a outros nomes de conhecidos. Se foi espiritual ou loucura, eu não sei. 
Nesse momento se iniciou um confuso quebra-cabeça, era como se todos possuíssemos um destino especial, com espécies de super poderes (falarei disso mais tarde).
Entre esses pensamentos eu senti um arrepio maligno que percorreu o meu corpo, então eu repreendi. Ao fazer isso, ouvi o som de muitas e muitas serpentes, era nítido e aumentava toda vez que eu repreendia usando o nome de Jesus. Em certo momento o serpentear cessou, porém começaram as pseudo(?)"revelações". A maioria eram mentirosas, possuindo apenas fragmentos de verdade. Naquela época, eu não sabia disso.
Em uma dessas revelações, entendi que eu precisava buscar o amor, mas não pude compreender o fato de Deus ser amor. Eu pensava se tratar de amor fraternal apenas, aquele que visa uma irmandade... É importante dizer que nesse momento eu já não consultava mais a bíblia, ela servia apenas como um amuleto para mim.
Andei pela minha casa, bradando coragem e autossuficiência; Ao chegar na cozinha, ouvi passos de alguém correndo no sótão, isso me perturbou muito, e eu tornei a repreender utilizando o nome de Jesus, nesse momento, aquilo que estava no sótão começou a correr de um lado para o outro com passos médios e pesados. Foi quando abri a porta do sótão e ao deixá-la aberta eu disse: "Vai, sai daí, não permito que você more mais nessa casa! Vá!". Não vi vulto ou coisa alguma, o barulho apenas havia cessado.
O tempo passou e eu, ainda em minha busca pelo amor, tornei a ler meus papéis, dessa vez procurando por pistas que pudessem me ajudar a compreender o que estava acontecendo... Foi quando encontrei uma carta que eu nunca havia escrito em minhas coisas, li apenas uma vez, dizia mais ou menos isso:

- Olá! Espero que esteja tudo bem. Estive acampando esse tempo todo lá em cima e agora eu vou viajar. Estou indo para Ilha Grande e espero poder te encontrar lá. Quem sabe você não pega uma carona pra me encontrar? De qualquer maneira, quando eu voltar matarei a saudade de você. Atenciosamente, o seu amor - 

Depois disso, encontrei uma foto de revista (acredito que também não me pertencia) onde mostrava um rapaz pedindo uma moça em casamento. Imediatamente ao ver essa gravura, em minha mente ressoou um pedido de casamento direcionado a mim. 
Ignorando tudo que acontecera anteriormente, infelizmente fui guiada a crer que aquilo provinha de uma pessoa, sim, um humano, vivo e misterioso, pensei que fosse a Juliana. O qual seria o amor da minha vida e estaria esperando por mim, pronta pra me encontrar. 
Ainda nesse pensamento cheio de loucuras, eu resolvi me deitar. Na cama pude ver algo me observando, tinha aspecto astral, de aura e era numa tonalidade intensa de rosa. 
Nunca vi nada parecido, havia uma guerra acontecendo ali, a cada dia minha mente era bombardeada para a destruição.
No dia seguinte, eu fui as ruas, sem compromissos, comecei a vagar pelo mesmo caminho que eu fazia enquanto estava trabalhando.
A única droga que usei em toda minha vida foi a maconha e enquanto andava, querendo acender um beck, parei duas meninas vestidas de branco, e pedi um isqueiro a elas. Estranhamente elas pareceram me reconhecer, dizendo coisas como "não acredito, eu acho que é ela", "é ela sim!" e ao entregar um isqueiro bic preto, disseram "esse só não é azul". Foi estranho, eu acendi o baseado ali mesmo, agradeci o fogo e segui meu caminho. 
Chegando ao centro de compras da minha cidade, me sentei e observei. Pude notar que assim como aquelas meninas, haviam várias outras pessoas (aparentemente) vestidas de branco naquele dia, porém depois de alguns momentos, como num piscar de olhos, algumas daquelas roupas brancas se tornaram coloridas. Hoje eu acredito que me desliguei da realidade, não percebi o tempo passar e quando tornei a observar eram outras pessoas.
Naquele momento eu acreditei ser uma espécie de visão do futuro. Onde as pessoas de branco faziam parte de uma "religião" espiritualista. 
Já entorpecida por todas as coisas passadas, da realidade a loucura, comecei a crer em Kronos (tempo do homem) e no Kairós (tempo de Deus). Para mim Kronos era como uma gaiola na qual todos estávamos presos, na constante de passado, presente e futuro - enquanto Kairós era a liberdade, a eternidade, era a complexidade onde tudo - passado, presente e futuro - aconteciam ao mesmo tempo, dando um sentido inexplicável as coisas. Talvez não fosse um pensamento tão ruim se não despertasse em mim a vontade de destruir o Kronos, começando(?) por mim, posteriormente outras pessoas fariam. Nisso eu comecei a acreditar que viagens no tempo eram possíveis.
Ao voltar pra casa, se eu tinha começado a pirar, lá eu terminei. 
Acreditei em TODO tipo de fábula, algumas vinham da minha mente mas a maioria me era contada. Não, eu não estava ouvindo vozes. Era algo intra-craniano e com intensidades tão grandes que despertavam sensações em meu corpo. Algumas prazerosas, outras de intensa dor. A medida que eu ouvia essas coisas, repetia algumas e logo eu comecei a notar que naquele momento, minha voz estava limpa, clara e muito alta. Não demorou muito para que eu me tornasse alguém com complexos de superioridade. Pensava que aquilo seria algo como, "a voz de deus"; que até os que estavam longe de mim, poderiam ouvi-la, que uma espécie de telepatia seria alcançada pelo "poder da minha voz". Loucura ou simplesmente incompreensão, pois o fenômeno do volume na voz tornou a acontecer em 2016, em mim e em outra pessoa também. Mais loucura. 
Enfim, após alguns dias meus pais foram me visitar de manhã levando comida, e depois retornaram a noite. Seria, mais uma vez, o início de experiências traumáticas. 
A essa altura eu já não podia mais permanecer sozinha, eu já não suportava ficar ali sem ninguém. Pedi que meus pais ficassem comigo porém eles se recusaram dizendo ter um compromisso. Nós discutimos e nesse meio tempo a maçaneta da porta de entrada, não sei como, caiu. 
Não me lembro muito bem do houve em seguida... 
O que eu lembro era do meu pai me segurando com força, impedindo que eu me movesse ou me apartasse dele - não, eu não estava violenta. 
Houve um momento em que ele jogou o próprio peso contra minhas costas e eu o levantei, até que ele caísse. Logo depois, ele aproveitou que eu estava desnorteada pelo peso de mais de 90kg, para conseguir me prender.
Eu que já estava apavorada e querendo me libertar, comecei a pedir repetidamente, para minha mãe - que estava assistindo aquela cena horrenda, sem fazer nada - iniciar uma oração. Depois de muito tempo ela começou a orar e eu incentivei gritando: "continua! Não para, por favor, ora, me ajuda, por favor". Ela parecia não estar me ouvindo e me olhava de um jeito estranho, duvidoso... 

-Algumas semanas depois eles me falaram que eu estava gritando e gritando, descontrolada, sem falar nada. O que me leva a crer novamente, que algo distorceu minhas palavras, transformando-as em gritos apenas. Mostrando um descontrole aparente que gerou toda essa desagradável situação.-

Por mais que eu não fosse reagir lutando contra o meu pai, ele simplesmente não parava de me segurar à força, não deixava que eu me desvencilhasse dele. Por eles terem vida espiritual, já viveram muitas coisas e eu esperava que de fato eles me ajudassem e hoje creio que de alguma forma fui ajudada. 
Giovanna foi à cozinha, talvez beber uma água, e nesse meio tempo, meu pai me imobilizou no chão segurando meus braços. Foi quando algo estalou na consciência dele e ele disse: "calma, eu já entendi o problema, é essa casa". Minha mãe voltou, os dois que estavam muito estranhos me levaram de carro pra casa deles, durante o trajeto ninguém falou nada e no dia seguinte eu voltei pra minha casa. 
Em uma das noites que se seguiram, enquanto eu estava dormindo, o rapaz que morava comigo, o Túlio, que estava viajando durante toda essa confusão, voltou. Ao chegar lá ele viu copos quebrados (não me lembro de ter feito isso, não sei como aconteceu) e logo pensou que eu poderia ter me matado!
Ele que não queria "problema" pra si, logo ligou para os meus pais. Depois de chegarem Manoel e Túlio arrombaram a porta do meu quarto e entraram.
Aquela era a primeira vez em dias que eu dormia, estava muito cansada, mas acordei na hora. Sem reação, apenas balbuciei algumas palavras, eles me deixaram no quarto e saíram.
Voltei a dormir. 
Sem o meu conhecimento, naquela noite, meus pais ligaram para uma ambulância.
Foram até a minha casa, me colocaram na maca e me levaram até um local onde me doparam. Tudo isso enquanto eu estava dormindo (soube disso meses depois pelo Túlio, meus pais ocultaram esse fato de mim).
Depois daquele dia, eu comecei a sofrer blackouts, nos quais eu não me lembro de NADA do que aconteceu. Os momentos em que eu estava consciente eram alternados, e nada fazia sentido. Uma hora observava o dia e de repente era noite, tudo era desconexo.
Em um desses momentos de consciência, havia passado o dia inteiro em casa sem fazer nada que justificasse o que aconteceria a seguir.
Era noite e eu tinha acabado de sair do banho, só estava com uma blusa enquanto procurava um short para vestir. Enquanto isso, ouvi movimentação na escada, preocupada, entreabri a porta para olhar. Vi dois homens altos e fortes subindo a escada. Fechei rápido a porta e fui procurar minha chave. Eles se apressaram e não deu tempo. Entraram na minha casa e me jogaram violentamente contra o chão, eu estava seminua, envergonhada e com medo. Estavam me tratando como se eu estivesse violenta, por mais que eu falasse alto, eu não estava agressiva.
Alguém pegou uma bermuda pra mim e eu não ofereci resistência. Amarraram meus braços e foram me empurrando até uma ambulância. 
Cheguei ao posto e meu pai estava lá, ele conversou a sós com o médico e aquilo foi o suficiente para me medicar, novamente, contra a minha vontade. Sem nenhuma consulta ou conversa comigo, me deixaram lá presa durante dias, sendo medicada. 
Os blackouts eram momentos nos quais eu não estava consciente. 
Ele continuaram e eu falava ininterruptamente coisas sem sentido ou permanecia em estado catatônico, sentada fitando o vazio por horas.
Tenho meus motivos para crer que que não era o meu inconsciente no comando. Eu permaneci assim por dias e só voltei a mim diante a um acontecimento estarrecedor. 
Quando voltei a consciência no meu corpo, estava em um lugar escuro e mal conseguia respirar. Naquele momento alguém estava me asfixiando, me sufocando, me enforcando. Pude sentir aquelas mãos ao redor do meu pescoço, pressionando e antes de ver quem era, desmaiei. 
Acordei dias depois, presa em uma espécie de cela cinzenta onde continham cerca de 14 camas de pedra, as janelas eram gradeadas e a porta dava lugar a um portão trancado com cadeado. 
Chamei por alguém, para entender o que estava acontecendo, mas ninguém veio. Esperei até o momento em que uma enfermeira veio e me levou para tomar banho. 
No caminho para os chuveiros, vi meu reflexo em um bebedouro e lá estavam no meu pescoço às marcas do sufoco. Vi que nenhum dos banheiros possuíam portas e também percebi que todas as camas daquele lugar eram de pedra e que nem todos os "quartos" eram trancados como no que eu acordei.
Ao chegar próximo aos chuveiros, havia uma grande fila de mulheres que esperavam por sua vez para o banho. A maioria era velha, algumas haviam perdido seus dedos, outras tinham os dentes podres e algumas possuíam feridas e micoses na pele causadas pela falta de higiene do local. Todas aguardavam na fila nuas, sem qualquer sinal ou traço de dignidade. O lugar inteiro apesar de limpo todos os dias possuía um cheiro pútrido de dejetos humanos.
Sem entender, sem saber como questionar o porque de estar ali, com a sanidade que havia retornado parcialmente, optei por aguardar naquela fila vestida.
Ao chegar a minha vez, eu queria um pouco de privacidade, mas fui impedida pela enfermeira. Além dela ter visto eu me despir, ficara me observando e observando meu corpo durante todo o tempo de banho. Ao sair, eu iria colocar a mesma roupa, até ser novamente impedida por ela, fui encaminhada nua até a sala da enfermaria para pegar uma roupa qualquer e aleatória pertencente ao hospital para usar. A atmosfera daquele lugar era triste, pesada e prejudicial para qualquer um. 
Ao tentar perguntar o motivo de estar ali e onde era aquele lugar apenas obtive respostas curtas e ríspidas das enfermeiras. 
Hospital Psiquiátrico elas diziam e se divertiam com a minha confusão.
Hora do almoço. O que esperar para comer em lugar como aqueles? Aquele era o "primeiro" dia de mais de um mês ingerindo arroz empapado, feijão insosso e um hambúrguer de sebo de carne. O refeitório era o único lugar onde entrava luz solar, lá havia uma pequena "praça" com bancos e um pouco de espaço ao ar livre. Aquele lugar seria "bom" se ficar lá não tivesse sido proibido pelas enfermeiras. Durante todo o tempo, só fiquei lá por 20min no máximo, umas 4 vezes.
Durante a noite eu devo ter sido sedada novamente, pois só acordei 2 ou 3 dias depois, para ingerir mais medicação. Consegui me manter acordada daquele dia em diante (pararam de me sedar porque a Sabrina, minha ex-companheira questionou sobre que tipo de tratamento era aquele, onde me mantiveram dopada por dias).
Acordei para uma rotina desgastante, insípida e cinzenta.
Todos os dias eu tomava mil comprimidos pela manhã, tarde e noite. A comida sempre se repetia no almoço e na janta. O café da manhã e da tarde era um copo de café aguado e um pão duro com manteiga. O lanche da noite era uma mistura nauseante, muito desagradável de arroz com leite. 
Não havia muito o que fazer, só uma televisão com transmissão fantasma em preto e branco. 
Na busca de algo para suportar o tédio, tentei pedir papel e caneta - para escrever ou desenhar. Uma das enfermeiras me emprestou uma caneta e conseguiu um papel, mas só fez isso uma vez. Depois todas elas alegavam que eu iria gastar a tinta da caneta e por isso não me emprestavam mais. Tentei pedir um livro, mas só permitiram a entrada do mesmo faltando uma semana para minha alta.
Alegavam que iriam destruir o livro e por isso não permitiriam. Tentei conversar, mas todas as pessoas daquele lugar estavam dementes pelo isolamento, era quase impossível entender o que elas falavam, puxei assunto com as enfermeiras, mas estas por sua vez, literalmente, me ignoravam.
A medida que o tempo passava ao invés de me queixar e manter reclamações eu vivi um dia de cada vez. Tentando ao máximo construir um "bom" relacionamento com as pessoas que estavam lá. Apesar de não suportar nada naquele lugar, não havia um dia em que mesmo sofrendo eu não agradecesse, não houve um dia em que eu não me empenhasse por bom relacionamento naquele lugar.
Essa "conformidade" foi responsável por, durante algum tempo, um local mais harmonioso. Foi no final da minha estadia que se evidenciaram sinais de influência maligna naquele lugar. 
Sinais que foram observados por mim e que, por enquanto, não serão descritos.
Após 34 dias recebi alta e quando voltei para casa, fui levada a crer que tudo não havia passado de alucinações e delírios da minha mente.
Passei por um longo período de assimilação e depressão.
Aqueles que estavam perto de mim, não me conheciam e consideravam superficialmente, pelo meu temperamento apático que eu estava bem.
Quando saí do hospital perdi o contato com quase todos os meus amigos e aqueles com os quais eu saía, não conseguia mais me expressar. Durante algum tempo, enfrentando a 'realidade', desenvolvi um medo estranho e profundo das pessoas.
Medo das coisas loucas que eu havia feito/pensado/sentido, medo que alguém 'percebesse' isso.
Fiquei um bom tempo reclusa, morando na casa dos meus pais e permanecendo lá.
Rejeitei toda a percepção que tive, tomei como alucinações muitas coisas e ainda que não houvesse explicação, aceitei o conselho de 'parar de pensar naquilo'.
Não adiantou obviamente sempre havia algo relacionado ao assunto que voltava a minha mente. Fiquei quieta e só; Até não suportar mais tomar remédios.
Certo dia, cansada de duvidar sobre tudo que havia acontecido, perguntei a Deus se Ele realmente era real, caso fosse, pedi que me ajudasse que esclarecesse as coisas... Fora quando um morcego grande entrou na garagem da minha casa voando em minha direção então ele bateu na lâmpada e de alguma forma apareceu 1m para trás onde foi embora voando. Vi aquilo com muitas dúvidas no coração, mas era o suficiente para crer que pelos menos uma parte do que eu vivi foi real e a outra parte poderia sim ter sido efeito colateral da minha saúde debilitada.
De qualquer forma, eu cri e decidi continuar minha busca por Deus. 
Não quis ir a templos, mas ia ao meu quarto.
Lugar onde orei diariamente e li sua palavra em secreto e em secreto Ele estava lá. Comecei então a ter experiências de fé e outras coisas -também estranhas- continuaram a acontecer.
Pouco a pouco muita coisa se repetiu. Coisas extraordinárias aconteceram e novamente errei em minhas considerações finais ao me apoiar em meu próprio entendimento.